quarta-feira, 27 de julho de 2011

Volta as aulas com silicone. Será que pega?

Nesta volta às aulas, algumas adolescentes aparecerão diferentes em sala e deverão chamar a atenção dos garotos. Em nome da beleza, muitas meninas têm trocado viagens durante as férias escolares por consultas com cirurgiões para colocar silicone nos seios.
Parte das garotas, de 12 a 18 anos, não vê a hora de estrear o implante e dividir a novidade com os colegas de classe.

“Foi presente antecipado de aniversário melhor que qualquer viagem. Chego à maioridade em agosto, mas não aguentei esperar. Ganhei os implantes do meu pai, mas ajudei a pagar com o dinheiro que guardei da mesada, viu?! Sempre admirei e achei lindo seios grandes e considerava os meus muito pequenos. Quis peitos bonitos como os da minha mãe, que já têm silicone. Mas meu sutiã não passava do tamanho 36 e eu usava com bojo para parecer que eles eram maiores”, diz a estudante Raysa Martins de Jesus, que aos 17 anos colocou 300 ml de silicone no último dia 12.

Apesar de a operação ter sido recente, Raysa diz estar recuperada e ansiosa para retornar à escola, nesta semana, em Americana, no interior de São Paulo. “Agora eu tenho ‘peito’”, brinca a garota, em entrevista.

“Desde os 14 anos minha filha falava que os seios dela eram pequenos e me pedia para pôr silicone, mas eu dizia que não, que ela ainda era muito nova. Depois que eu coloquei as próteses em mim neste ano, minha filha insistiu mais. A levei ao médico e como ele disse que o peito dela não cresceria mais, decidimos fazer a plástica nela”, diz a mãe de Raysa, a empresária Lucimara Martins Camilo, de 36 anos.

Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), julho concentra, tradicionalmente, o maior número de intervenções cirúrgicas durante o ano, com um aumento de 50% nas operações plásticas em relação aos outros meses. Dois são os motivos: férias escolares e inverno.



“Julho é um período de férias escolares, as pessoas conseguem programar a cirurgia e se recuperar com mais calma. E também tem o inverno que aumenta procura por cirurgia plástica. A opção de operar no frio se deve ao maior conforto pós-operatório. Há menor exposição aos raios solares, o que contribui para uma melhor cicatrização e menor inchaço. Outra vantagem é que o resultado final aparece dentro de seis meses, o que significa aproveitar o verão tranquilamente”, explica o presidente da SBCP, Sebastião Guerra, que trabalha como cirurgião plástico em Belo Horizonte.

Apesar de os dados sobre cirurgias deste semestre ainda não terem sido computados pela entidade, a estimativa da sociedade é que as adolescentes irão responder por 10% do total de plásticas neste ano. Além das estudantes, as mães delas também aproveitam as folgas das filhas e a baixa temperatura para fazer a plástica.

“Nessa época de frio não tem sol e praia. Há um aumento considerável mesmo na procura”, confirma a cirurgiã plástica Ana Helena Patrus, sócioprorietária da Clínica Santé, em São Paulo.

Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, enquanto o número de adolescentes que recorrem à plástica tem aumentado nos últimos anos, a idade delas também vem diminuído. Quinze anos de idade é a média para a colocação de silicone, por exemplo.
Levantamento inédito encomendado pela entidade em 2009 mostrou que dos 629 mil procedimentos cirúrgicos estéticos feitos entre setembro de 2007 e agosto de 2008, 37.740 foram feitos em adolescentes. Para chegar a esse número, que corresponde a 8% do total de intervenções no país naquele período, foram ouvidos 3.533 cirurgiões associados.
“Eu mesmo já coloquei silicone numa menina norueguesa de 13 anos, mas com cara de 18. Mas ela estava com quase 1,70 m, já havia menstruado. Esse caso é raro, mas nos últimos três anos, pus próteses em oito garotas com menos de 15 anos”, diz o presidente da SBCP, Sebastião Guerra.


O médico Hermes Masayuki, de Santo André, no ABC, responsável pelos implantes em Lucimara e Raysa, afirma que a colocação da prótese depende de cada paciente.
“Vejo se existe um trauma psicológico muito grande, se a cirurgia é para fins estéticos ou correção de assimetria mamária, se o interesse de aumentar os seios é algo pessoal ou se está influenciada por amigas. Devemos saber também quando veio a primeira menstruação, idade atual, se faz uso de contraceptivo hormonal, se nos últimos 12 meses sentiu aumento das mamas, e se o peso, altura e o manequim estão estacionados”, elenca Masayuki.
Somente após essas avaliações e o exame físico é que o médico sugere o volume da prótese a ser colocado.


Contra silicone na adolescência
Mas há médicos que evitam fazer cirurgias de implantes de silicones em seios de adolescentes.
“Menininha de 15 anos que quer prótese porque coleguinha pôs ou viu na TV não me convence. É a mesma coisa que pai deixar filho menor pegar carro para dar uma volta. Se vir adolescente, não deixo de atender. Tenho conversa franca junto com os pais, mas mesmo que eles autorizem e adolescente queira, é o cirurgião quem decide”, afirma Ruben Penteado, cirurgião plástico, diretor do Centro de Medicina Integrada em São Paulo. “Com o corpo da adolescente em formação, em crescimento, a intervenção cirúrgica deve ser feita se necessário.”
Em 17 anos como cirurgião plástico, Penteado diz ter atendido cerca de 3,5 mil pacientes, sendo que 15% foram adolescentes procurando uma consulta. “Mas desse percentual, operei 1%. A maioria eu recuso. Eu insisto nessa postura para não banalizar a coisa”, diz ele, que é pai de uma adolescente de 14 anos. “Até agora ela ainda não me pediu nada de plástica.”

A ex-participante da edição número 11 do reality show Big Brother Brasil, a professora de edução física Janaina Santos, de 26 anos, gostaria de ter colocado silicone na adolescência, mas se achava muito nova. “Fiz a plástica neste ano. Queria pôr desde os meus 17 anos, mas acho que fiz bem em não colocar na adolescência. Adolescente não tem muita noção do que faz.”
A atual rainha da Oktoberfest de Santa Cruz do Sul, a estudante gaúcha Emily Dockhorn, atualmente com 21 anos, só colocou o silicone após os 18 anos. “Adolescente tem sonhos. É o sonho de qualquer adolescente pôr silicone. Cada vez mais, ela procura pela plástica e beleza, vê isso nas revistas e passarelas. Cabe encaminhamento psicológico. É um ato de responsabilidade”, diz ela, que, com o incremento de 300ml em cada seio foi do sutiã 42 para o 46.

Mães e filhas
A relação de mãe e filha é muito presente em diversos relatos sobre plástica. “O perfil das pacientes é adolescentes em férias e de suas mães”, diz o médico Fernando de Almeida Prado, de São Paulo, membro e diretor da SBCP.
Em muitos casos, as filhas seguiram os passos das mães. É o que ocorreu com Marilia Caputi, de 45 anos, e Pamela Caputi, de 26. Marília, que é apresentadora de TV em Americana, pôs silicone primeiro.

A filha dela, Pamela, que colocou 300ml, poderá superar os 380 ml da mãe no futuro. “Quero ir para 400ml”, conta ela, que é enfermeira em Praia Grande, litoral paulista. Jéssica Freitas, de 21 anos, também se inspirou na mãe, Cleonice Ferreira dos Santos, de 42 anos. As duas moram em São Bernardo do Campo, no ABC, e operaram com o mesmo médico. A diferença é que a estudante colocou as próteses quando fez 18 anos e a empresária, com 32 anos.
Veteranas no quesito silicone, as modelos Gil Jung e Núbia Oliiver alertam para os riscos de uma cirurgia mal feita.
“O médico precisa ter uma boa indicação, alguma referência. Não procure o primeiro que aparece”, diz Gil, 25 anos e três trocas de próteses. A última foi em julho de 2009, quando colocou 450ml em cada seio.
Se preparando para realizar a quinta cirurgia plástica de mama neste mês, a atriz e modelo Núbia Oliiver, de 37 anos, diz que sempre encontra os consultórios cheios nesse período. “Aconselho prestar sempre atenção na escolha do profissional, se está certa em fazer o procedimento, se não é apenas modismo, se não pode esperar mais um pouco, se o que antecede o procedimento está tudo preparado e correto", afirma Núbia.

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